
Promessa
Jamais deixarei morrer cá dentro o viés
que transforma esta amargura em poesia.
O grito que me teima, mas que tu guardas
no instante dos sentidos, saberá sempre
em mim como um sopro de vida.
E, se não vou à noite como quem vai à maresia,
começarás tu a dissipar a neblina
no horizonte dos caminhos por andar.
É-nos dado pouco tempo, mas naveguemos
numa alegria sem demora. Diante do mundo,
algo mais do que esta enseada de águas
mansas, não quererá a eternidade ser parte
do abalo ou do desvario. Simplicidade apenas,
de remanso com que as horas são batidas
monocórdicas no relógio. E todos os fados
são universos de cada transeunte.
Filinto Elísio, Cabo Verde.
Do prefácio de Pedro Tamen:
"E tudo isto sem concessões fáceis ao literal e cediçamente poético que, com tanta facilidade, mascara de poetas alguns fazedores de versos. O autodomínio quase feroz do discurso de Filinto Elísio revela-o, sim, como um poeta "que sabe do seu ofício" mas que, de modo austero e, quase diria, monástico, oculta o seu saber(...).
Título: Li Cores e Ad Vinhos, edição Letras Várias, Edição e Arte, Abril 2009. Desenhos de Mito Elias, artista plástico a três dimensões, que poderão ver aqui.
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